segunda-feira, 8 de junho de 2009

Capoeira e a criança




De acordo com o Referencial Curricular para Educação Infantil (1998) do MEC, foram estabelecidos para a educação formal os seguintes parâmetros:

Metas de qualidade que contribuam no desenvolvimento integral das crianças e suas identidades.
Ações educativas; priorizar conhecimentos e formação na formação das crianças.
Levantar preocupações com o desenvolvimento cognitivo.
A autonomia.
A cooperação.
As diferentes inserções culturais, promovendo a cidadania, para que os alunos gozem dos direitos à infância plenamente.

Além disso, visa contribuir para realizar, nas instituições, o objetivo socializador dessa etapa educacional, em ambientes que propiciem o acesso e a ampliação, pelas crianças, dos conhecimentos da realidade social e cultural de maneira mais efetiva.

Em razão dos conhecimentos da Capoeira ultrapassar o fator motor, incorporando em seu interior o cultural, propicia ao aluno a aprendizagem das suas origens e do seu desenvolvimento, levando-o à viagem à cultura brasileira, despertando lhe o valor de sua história e da história do Brasil, vindo de encontro aos parâmetros sugeridos no Referencial Curricular para Educação Infantil (1998).

A Capoeira na Educação Infantil vem sugerindo um trabalho que vai muito além de um simples jogar os pés para o alto. O chute, na Capoeira, ganha um novo sentido e atua como recurso simbólico na subjetividade da criança em sua busca de liberdade e autonomia, em todas as dimensões humanas.

Ouvir historias sobre os fundamentos da luta, aprender e cantar canções, compassar as palmas, brincadeiras musicadas, realizar movimentos característicos do jogo da Capoeira, tocar e construir instrumentos, são atividades que despertam e estimulam o gosto por esse universo, além de propiciar a vivência de elementos até então desconhecidos do repertório da criança.

Dentre as possibilidades da capoeira na Educação Infantil, destacamos algumas faces desta arte que representam alternativas reais e concretas de intervenção pedagógica com crianças de 0 a 6 anos, que se otimizam a partir de suas interlocuções, contextualização e intencionalidade pedagógica.


A música

A musicalidade na capoeira tem papel fundamental, pois dela se desencadeia boa parte do processo ritualístico da capoeira, ou seja, é a partir da musicalidade que os movimentos são executados, os instrumentos são tocados e as cantigas entoadas.
O ritmo, elemento potencialmente explorado na prática da capoeira, tem o poder gerador de impulso e movimento no espaço, desenvolvendo a motricidade e a percepção sensorial, além de propiciar o surgimento de estados afetivos, contribuindo para algumas aquisições, tais como: Linguagem, leitura, escrita e lógica matemática.

A associação do canto e do movimento permite que a criança perceba sua identidade rítmica, ligando os movimentos do corpo aos sons musicais adaptando-se aos exercícios de sincronização sensório-motora.
O trabalho musical da capoeira proporciona o equilíbrio rítmico da criança correlacionando as noções de tempo-espaço. Isto favorece à criança, um maior equilíbrio emocional, melhorando as relações com os outros colegas a partir do respeito do ritmo do outro e de si mesmo.

Na utilização dos instrumentos da capoeira (berimbau, pandeiro, atabaque e outros) damos significativa contribuição no que tange ao desenvolvimento da coordenação motora fina, pois a partir do manuseio desses instrumentos a criança perceberá as implicações de gestos menores (finos), relacionados aos objetos, o que possibilita uma melhoria no processo de escrita, dentre outros em que esta habilidade é necessária.

Através das cantigas podemos trabalhar outro mecanismo importante como o desenvolvimento fisiológico da fala e a oralidade. Sem mencionar outra importantíssima função como o da transmissão da cultura de geração para geração. As letras das cantigas são carregadas de ditos populares e parábolas que traduzem posturas morais, cívicas e afetivas, que quando bem orientadas por uma intenção pedagógica crítica, podem servir de estratégia na construção de uma sociedade mais justa e humana.

O corpo

Por em sua essência, a capoeira ser uma atividade eminentemente prática, enfocando no jogo da roda de capoeira um de seus momentos mais sublimes e característicos, e por este jogo se consolidar a partir de movimentos corporais, a capoeira funciona como importante agente facilitador no trato com o movimento na Educação Infantil.

Através da atividade com a capoeira a criança pode facilmente familiarizar-se com a sua auto-imagem, pois os exercícios que permeiam a prática da capoeira trabalham praticamente todas as partes do corpo. Somado à isso, possibilitamos a aquisição de gestos que são associados a uma cadência rítmica em dinâmicas que fortalecem a integração dos envolvidos, ajudando no amadurecimento das noções tempo-espaço desenvolvendo uma atitude de interesse e cuidado com o próprio corpo.

A capoeira auxiliará na ampliação das diferentes qualidades físicas e dinâmicas do movimento, pois são freqüentes as situações em que os alunos são convidados a simularem movimentos que começarão de naturais, a exemplo da ginga, que nada mais é do que uma variação do ato de andar, até situações de maior elaboração técnica, melhorando a condição do andar, correr, pular, trepar, equilibrar, rolar, além de trabalhar força, velocidade, resistência e flexibilidade, aliado a um suporte lúdico, que é fator preponderante para a prática da capoeira e nas intervenções pedagógicas com crianças de 0 a 6 anos.

O ritual

Uma das grandes lições que a capoeira carrega em seu arcabouço ritualístico é a questão da vivência atrelada à contextualização do conteúdo, ou seja, é o “aprender fazendo”.
Boa parte de tudo que aprendemos na capoeira acontece por uma experimentação prática, que geralmente é catalisada por um ambiente que mescla indivíduos com diferentes experiências, mediados pela intervenção do mestre para a produção de um bem comum a todos.

É importante lembrar que todo este processo de construção do conhecimento está sempre permeado, na capoeira, por uma forte relação de respeito mútuo e parceria, pois o conceito de coletividade (“irmandade”) prevalece durante todo o ritual da capoeira, apesar da mesma ser freqüentemente confundida com o jogo atlético e competitivo, negando o objetivo natural desta arte que é “jogar com” e não contra o outro, ratificando a unidade da dupla sob o signo de parceria, que prevalece também dentre os outros componentes da roda.

As relações

No trabalho de capoeira com crianças pequenas, podemos perceber nitidamente uma melhoria nas relações interpessoais, ajudando desde crianças muito introspectivas até aquelas com problemas de hiperatividade, equilibrando as relações e promovendo uma sensível melhora da auto-estima, pois a constante necessidade de realização coletiva garantida pelo ritual da capoeira possibilita o exercício de se lidar com o outro e suas diferenças, fato este que se firma como importante mecanismo para resolução de possíveis situações emergentes das relações sociais cotidianas, contribuindo com a formação de indivíduos mais críticos, criativos e autônomos.

Com isso percebemos que a capoeira possui elementos que potencializam ações para a construção de uma pedagogia social e, conseqüentemente, de um modelo escolar infantil revolucionário, buscando as raízes das injustiças sociais, garantindo pensar e fazer uma escola que seja educadora do povo superando a visão de que a escola é apenas um lugar de ensino, ou de estudo dos conteúdos, por mais revolucionários que eles sejam, é preciso passar do ensino à educação, dos programas aos planos de vida.
Do imaginário ao real.

Planejamento anual.

Planejamento anual de aulas de Capoeira para crianças de 3 a 9 anos.

1- Objetivos Gerais da Disciplina
2- Objetivos Específicos da Disciplina
3- Conteúdos a Serem Atingidos/Desenvolvidos
4- Metodologia para Desenvolvimento das Aulas
5- Estratégias
6- Avaliação
7- Cronograma/Previsão

1-Objetivos Gerais da Disciplina.

Para a faixa etária em questão, espera-se que os alunos sejam capazes de:

• Participar de diferentes atividades corporais e culturais, procurando adotar uma atitude cooperativa e solidária, sem discriminar os colegas pelo desempenho ou por razões sociais, físicas, sexuais ou culturais.
• Conhecer algumas de suas possibilidades e limitações corporais de forma a poder estabelecer metas pessoais.
• Conhecer, valorizar, apreciar e desfrutar de algumas das diferentes manifestações de cultura corporal presente no cotidiano.
• Organizar autonomamente alguns jogos, brincadeiras ou outras atividades corporais simples.
• Ter consciência de seu corpo e de sua capacidade motora, psicossocial e afetiva respeitando os seus limites e suas condições físicas e mentais.
• Organizar-se dentro do universo da capoeira estabelecendo noções de jogo, cooperação, movimentos motores, roda e espaço-tempo, musicalidade e exercícios físicos.


2- Objetivos específicos da Disciplina (Capoeira).

• Participação dos alunos em diversos jogos e lutas respeitando regras e não discriminado os colegas.
• Explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extra-escolares.
• Participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas (metodologia aberta e interativa).
• Resolução de situações de conflito por meio de diálogo, com ajuda de professor.

• Discussão das regras dos jogos adaptados de capoeira em proposta.
• Utilização de habilidades dentro da roda de capoeira, tendo como referência de avaliação o esforço pessoal.
• Resolução de problemas corporais individualmente. (movimentos de capoeira)
• Avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxílio do professor.
• Vivência dos alunos a diversas fases de um movimento que o levem a construir o seu repertório motor (para colocarem em prática dentro do contexto jogo).

3- Conteúdos a Serem Desenvolvidos com a prática da Capoeira.

• Coordenação Motora (Fina e Grossa)
• Equilíbrio (Dinâmico e Estático)
• Ritmo (Dissociação Colocação no Espaço e Tempo)
• Expressividade (Expressão Corporal) e Afetividade (Sentimentos)

4- Metodologia para desenvolvimento das aulas.

• Impedir a rivalidade de sexos, raça ou condições sociais.
• Propor brincadeiras e jogos lúdicos e tendo em mente a aproximação de meninos e meninas, crianças que não se falam na mesma turma e alunos que se envolveram eventualmente e brigas e discussões.
• Elogiar a cada nova conquista de movimento ou cooperação.
• Unir o grupo criando um bom clima de trabalho.
• Abrir espaço para as idéias e propostas das crianças em relação às atividades.
• Adequar a linguagem e comportamento (professor) para o público alvo (crianças em primeira e segunda infância).
• Saber dar exemplo de seu comando dentro do grupo (como professor) para obter respeito por parte dos alunos e também interação com os mesmos

5- Estratégias.

• Jogos e brincadeiras (adaptados para a capoeira) com bolas, estafetas, cones, bamboles, cordas e demais materiais
• Rodas cantadas e cantigas referentes à capoeira e suas origens.
• Trabalhos de Psicomotricidade
• Danças e tradições culturais e urbanas (maculelê, jongo, samba de roda, maracatu, puxada de rede e coco).
• Imitações, mímicas, confecção de instrumentos, aulas teóricas.
• Jogos de regras, jogos cooperativos, jogos de sensibilização (levando em consideração as adaptações ao universo da capoeira).


6- Avaliação.

Critérios de Avaliação:

• Pretende-se avaliar se o aluno demonstra segurança para experimentar, tentar e arriscar em situações propostas em aula ou em situações cotidianas de aprendizagem corporal.
• Pretende-se avaliar se o aluno participa adequadamente das atividades, respeitando as regras, a organização, com empenho em utilizar os movimentos adequados à atividade proposta.
• Pretende-se avaliar se o aluno reconhece e respeita as diferenças individuais e se participa de atividades com os seus colegas, auxiliando aqueles que têm mais dificuldade e aceitando a ajuda dos que têm mais competência.
• Auto-avaliação do professor analisando o desenvolvimento e aprendizado individual conforme capacidade motora, psicológica e social do aluno.


7- Cronograma/Previsão.

Mês de Janeiro – Férias

Meses de Fevereiro e Março – Coordenação Motora.
Explorar atividades que incentivem a diferenciação lateral esquerda-direita, frente e fundo e construção de movimentos. Vivência dos alunos em diferentes habilidades motoras e que sejam capazes de coordená-las.
Utilizando-se da capoeira com a ginga e suas variações e movimentos de ataque e defesa.

Meses de Abril e Maio – Equilíbrio.
Percepção das sensações, limites e potencialidades do próprio corpo. Participação dos alunos em brincadeiras e jogos que permitem ampliar gradualmente seu conhecimento e controle sobre o corpo e o movimento.
Utilizando-se da capoeira com as paradas de mãos e lúdicos que explorem os aús "estrelinhas" e suas variações.

Meses de Junho (Julho/Férias) e Agosto –Expressividade.
Expressar seus desejos, seus sentimentos e suas emoções. Explorar a relação do aluno consigo mesmo, com outras pessoas, com os seres vivos e com os objetos.
Utilizando-se da capoeira com as particularidades de cada criança e sua dependência; já que entram de dois em dois na roda e batem palmas e cantam em sincronia. (Observar qual ação de cada criança).

Meses de Setembro e Outubro - Ritmo.
Fazer com que o aluno consiga obter uma alternância regular de força, velocidade e duração que poderá ser motora, visual e auditiva. (Cabe ao professor observar neste momento o desenvolvimento do aluno enquanto está na roda sincronizando música e trabalho motor)
Utilizando-se ainda da capoeira com as suas músicas, o conhecimento dos instrumentos e a construção das cantigas durante a roda.

Mês de Novembro – Com os conteúdos trabalhados bimestralmente, propõe-se neste mês final, apresentações de coreografias, danças e atividades relacionadas a capoeira; onde os alunos demonstrem o aprendizado de todos os conteúdos. Fazendo assim uma relação/ligação entre coordenação motora, equilíbrio, ritmo, expressividade, afetividade e desenvolvimento dentro do jogo.

Mês de Dezembro –Férias.